Correios suspende cartões e mantém apenas Pix após contrato bloqueado

Pagamentos com cartão de crédito ou débito estão temporariamente indisponíveis em todos os serviços dos Correios após a estatal suspender, nesta terça-feira (2), o contrato da operadora responsável pelas transações eletrônicas. A única forma de quitação aceita nas agências e demais canais da companhia é o Pix, que segue ativo enquanto a empresa busca uma solução para restabelecer os meios tradicionais de cobrança.
A interrupção decorre da anulação, por parte dos Correios, do acordo firmado em 2021 com a prestadora que processava os pagamentos por cartão. O vínculo foi bloqueado no mesmo dia em que a estatal tornou pública a instabilidade do sistema, medida adotada em meio ao processo administrativo instaurado para apurar irregularidades. A prestadora figura em investigação conduzida por autoridades federais dentro de uma operação deflagrada na última quinta-feira (28) contra um esquema de lavagem de dinheiro de grandes proporções.
De acordo com nota oficial, os clientes continuam a ter acesso integral a todos os serviços postais e logísticos, mas, por ora, precisam concluir as transações exclusivamente via Pix. A estatal reforçou que, embora o site e o aplicativo apresentem limitações para postagens pagas, as agências permanecem abertas para atendimento presencial, onde o QR Code gerado pelo caixa garante a conclusão do pagamento digital instantâneo.
Os Correios argumentam que a medida preventiva de suspensão contratual segue “o rito formal previsto em lei”, respeitando prazos e garantindo o direito à ampla defesa da prestadora. Sem detalhar números, a empresa pública informou que vem avaliando alternativas para normalizar a aceitação de cartões “no menor prazo possível”, inclusive com a possibilidade de acionar fornecedores que participaram da licitação de 2021 ou iniciar um procedimento emergencial para escolha de novo parceiro.
A operadora afastada aparece entre os alvos das diligências da última quinta-feira, quando forças-tarefa federais desarticularam células financeiras suspeitas de movimentar valores bilionários para organizações criminosas. Embora os Correios não tenham sido citados como participantes do esquema, o departamento jurídico da estatal optou por paralisar imediatamente o contrato após receber comunicações oficiais sobre a investigação. Fontes internas informam que auditorias internas já estavam em andamento, mas a ação policial acelerou a decisão.
Especialistas ouvidos em off pela reportagem destacam que interrupções de serviços de pagamento em empresas de grande porte costumam impactar diretamente a experiência do usuário, mas podem ser atenuadas quando existe redundância de meios de cobrança. No caso dos Correios, a ampla adoção do Pix no país funciona como amortecedor, pois transfere, em segundos, os valores devidos ao caixa da estatal, garantindo a continuidade operacional mesmo sem cartões.
Em termos regulatórios, a suspensão contratual segue amparada pela legislação de licitações e contratos administrativos, que permite à administração pública interromper vínculos diante de indícios de ilicitude. Na prática, enquanto vigorar o bloqueio, a prestadora fica impedida de receber novos repasses e de operar os terminais instalados nas agências. Os Correios, por sua vez, assumem a gestão das máquinas até que seja definido o destino final do contrato — que pode ser retomado, rescindido ou substituído.
Além dos pagamentos presenciais, o site e o aplicativo da companhia também foram afetados pela impossibilidade de processar cartões. A equipe de tecnologia estuda separar a infraestrutura de front-end da plataforma de pagamentos, de forma a liberar funcionalidades não dependentes do meio de cobrança suspenso. No momento, encomendas com etiqueta paga anteriormente continuam sendo rastreadas normalmente, e consultas de CEP ou preços seguem disponíveis.
Não há prazo oficial para a conclusão do processo administrativo nem para a escolha de um novo operador de cartões. A estatal reiterou, contudo, que divulgará atualizações assim que houver avanços significativos. Enquanto isso, orienta que os clientes verifiquem limites diários de Pix junto às instituições financeiras, especialmente no envio de valores mais altos para serviços como Sedex e cargas expressas.
Com cerca de 6 mil agências próprias e franqueadas, os Correios realizam diariamente milhões de operações financeiras relativas a postagens, distribuição de mercadorias e serviços adicionais. A dependência de um único prestador para cartões contrasta com a crescente pulverização de arranjos de pagamento no mercado privado. A interrupção atual pode acelerar discussões internas sobre diversificação de parceiros, adoção de carteiras digitais e, eventualmente, integração com sistemas de open finance para ampliar opções ao consumidor e reduzir riscos de interrupção total.
Crédito Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Fonte das informações: Agência Brasil