Serra do Ramalho: Preservação das Pinturas Rupestres e Ferramentas Paleolíticas na Serra de João Neves.
Ameaçado pelo tempo e pela ação humana, um dos mais importantes sítios arqueológicos da Bacia do São Francisco precisa de proteção urgente.

Na comunidade de Tamarindo/Taquari, no município de Serra do Ramalho, um tesouro arqueológico resiste ao tempo: a Serra de João Neves abriga pinturas rupestres e ferramentas paleolíticas que contam a história dos povos ancestrais que habitaram a região. Esses vestígios milenares não apenas comprovam a ocupação humana antiga, mas também carregam um valor cultural e científico inestimável. No entanto, a preservação desse patrimônio enfrenta desafios urgentes, tornando essencial a mobilização de pesquisadores, estudantes e da comunidade local.
A ciência a serviço da história
A preocupação com a preservação do sítio arqueológico tem mobilizado estudiosos e educadores, que buscam não apenas catalogar essas relíquias, mas também conscientizar a população sobre sua importância. O professor Lécio tem sido um dos principais incentivadores desse movimento e destaca a relevância do estudo para a cultura e a educação:
Estamos trazendo os estudantes até o campo de pesquisa para desenvolver esses estudos. Isso tem fortalecido nossas atividades na sala de aula, unindo teoria e prática. Espero que esse estudo leve conhecimento para a comunidade local e científica sobre essa riqueza que temos na bacia do São Francisco.
A iniciativa não apenas amplia o aprendizado acadêmico, mas também fomenta um vínculo entre os jovens e sua própria história, tornando-os agentes da preservação do patrimônio.
Um sítio de valor inestimável
O arqueólogo Maike Lopes, responsável pelo acompanhamento das pesquisas na Serra de João Neves, enfatiza a relevância científica do local e alerta para os riscos que ameaçam sua conservação:
Esse é um local de extrema importância para o estudo da pré-história no Brasil. As pinturas rupestres e as ferramentas paleolíticas encontradas aqui são registros valiosos da ocupação humana antiga. Infelizmente, já observamos sinais de degradação, com lixo e vandalismo. Precisamos de ações efetivas para garantir que esse patrimônio não se perca.
A degradação do sítio arqueológico tem se tornado um problema recorrente, com vestígios de depredação, descarte de lixo e intervenções humanas indevidas. Isso reforça a necessidade de fiscalização, reconhecimento oficial e maior envolvimento das autoridades competentes.
O olhar da juventude sobre o patrimônio
Os estudantes que participam das pesquisas de campo têm uma visão privilegiada desse acervo histórico. Para a aluna Vitória, a experiência de estar em contato direto com as pinturas rupestres foi marcante:
Foi uma oportunidade de conhecimento amplo. Ver as pinturas rupestres pessoalmente foi uma maravilha. Muitas pessoas não sabem da existência desse lugar e ele deveria ser mais reconhecido.
Já Júlia, outra estudante envolvida no projeto, demonstrou preocupação com os impactos da falta de conservação:
Foi maravilhoso conhecer mais sobre a cultura do nosso território Velho Chico. É essencial que esse lugar seja reconhecido e tombado para garantir sua preservação. A gente viu que algumas pessoas vêm aqui, fazem churrasco, deixam garrafas de vidro, e isso prejudica o local. A fiscalização é muito importante para evitar a degradação.
O relato das alunas evidencia um problema recorrente em muitos sítios arqueológicos brasileiros: a falta de informação e de políticas públicas eficazes para garantir sua proteção.
O caminho para a preservação
Diante dos desafios enfrentados pela Serra de João Neves, o arqueólogo Maike Lopes reforça a necessidade de reconhecimento oficial do sítio:
Estamos trabalhando no cadastramento desse sítio para que ele seja reconhecido pelo IPHAN. Isso garantirá medidas de proteção e fiscalização. Se não houver um esforço conjunto da comunidade, pesquisadores e autoridades, corremos o risco de perder um pedaço significativo da nossa história.
A inclusão do sítio arqueológico nos registros oficiais representa um avanço essencial para a preservação das pinturas rupestres e ferramentas paleolíticas. Com o reconhecimento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a região poderá contar com políticas de preservação mais robustas, garantindo que essas relíquias cheguem intactas às próximas gerações.
A Serra de João Neves é mais do que um conjunto de pedras pintadas pelo tempo — é um testemunho vivo da passagem de civilizações antigas pelo território que hoje conhecemos como Serra do Ramalho. Cada traço desenhado nas rochas e cada ferramenta encontrada são fragmentos da nossa identidade, e seu desaparecimento significaria uma perda irreparável para a história regional e nacional.
A preservação desse patrimônio arqueológico não é uma responsabilidade exclusiva dos pesquisadores, mas sim de toda a sociedade. É fundamental que haja educação patrimonial, ações de fiscalização e envolvimento do poder público para garantir que essas riquezas sejam protegidas.
Se medidas concretas não forem tomadas agora, corremos o risco de perder um legado cultural insubstituível. Cabe a cada cidadão, seja ele estudante, professor, pesquisador ou morador local, assumir o compromisso de defender esse patrimônio. Afinal, preservar a história é garantir que as futuras gerações tenham a oportunidade de conhecê-la, estudá-la e se orgulhar dela.