De 3 enfermarias a hub de alta complexidade: o plano invisível por trás dos 37 anos do HUM

Quando o Hospital Universitário de Maringá abriu as portas, em 1988, cabia inteiro em três enfermarias. Trinta e sete anos depois, R$ 90 milhões em aportes recentes estão transformando o HUM no maior polo de alta complexidade 100 % SUS do Noroeste do Paraná — e pouca gente percebeu o efeito dominó que isso terá sobre filas cirúrgicas, formação de médicos e economia regional.

O salto que vai muito além dos 201 leitos: por que 11 salas cirúrgicas mudam o jogo

Na superfície, o anúncio de que o centro cirúrgico passará de cinco para onze salas parece mais um dado de engenharia hospitalar. O porquê oculto é logístico: dobrar salas significa triplicar a janela de cirurgias de alta complexidade que hoje migram para Curitiba ou Londrina. Cada procedimento mantido em Maringá rende economia em transporte de pacientes, diária hospitalar fora de domicílio e, sobretudo, reduz o tempo de espera do pós-operatório próximo à família — fator decisivo para recuperação.

O movimento ainda libera vagas nos grandes hospitais da capital e pulveriza a demanda do SUS. Segundo a direção do HUM, as 5.400 cirurgias anuais poderão superar 10 mil quando o bloco estiver pleno. Trata-se do mesmo volume anual de um hospital privado de porte médio, só que dentro de um sistema universitário cujo foco é serviço público e formação.

Ensino, pesquisa e assistência na mesma sala: como o HUM virou laboratório vivo do SUS

Quem atravessa o corredor principal do hospital percebe um fluxo pouco comum: calouros de Medicina, residentes de Urgência e professores PhD circulam lado a lado. Esse ecossistema misto produz efeito direto na qualidade do cuidado.

  • Diagnóstico mais rápido: a recém-inaugurada sala de ressonância magnética — investimento de R$ 17 milhões — foi pensada como plataforma de pesquisa. Enquanto gera dados para estudos, desentope a fila de exames complexos na região.
  • Formação em casos reais: com 71 mil atendimentos no Pronto-Atendimento em 2023, internos de Medicina relatam experiência prática incomum em hospitais-escola tradicionais, onde o aluno costuma observar mais do que executar. Aqui, eles prescrevem, acompanham e coletam dados sob supervisão direta.
  • Inovação aplicada: 40 especialidades médicas convivem no mesmo prédio, cenário ideal para testar protocolos multidisciplinares. Exemplo recente foi a criação de fluxo integrado para pacientes politraumatizados, que reduziu o tempo porta-sala-cirúrgica em 18 %, de acordo com a equipe clínica.

A combinação de estrutura física em expansão e capital humano em formação cria o que gestores chamam de “laboratório vivo do SUS”: um espaço onde pesquisa, aprendizado e serviço acontecem ao mesmo tempo, retroalimentando-se.

R$ 90 milhões em dois anos: de onde vem o dinheiro e por que chega agora?

O pico de investimentos não ocorreu por acaso. Segundo a reitoria, três gatilhos destravaram o fluxo:

  1. Programa estadual de retomada de obras paradas, que reativou o Bloco Industrial — coração logístico do hospital — com verba de R$ 14 milhões.
  2. Plano federal de ampliação de rede especializada, responsável pelo aporte de quase R$ 2,5 milhões no futuro Centro de Reabilitação Física e Mental, voltado inclusive a pacientes com TEA.
  3. Contrapartida universitária, que canalizou economias internas para aquisição de equipamentos como o tomógrafo de R$ 700 mil para Odontologia.

Juntos, esses três vetores formam um efeito de “financiamento concatenado”: ao concluir o Bloco Industrial, o HUM liberou espaço para instalar a Central de Resíduos (R$ 1 milhão) e abriu área física para a nova maternidade de R$ 25 milhões, cujo projeto aguarda aprovação final.

Impacto invisível no bolso dos municípios: menos ambulâncias na estrada

Cada paciente encaminhado para capitais onera as prefeituras com diárias, transporte e acompanhante. Estimativas de gestores municipais — ainda não publicadas — indicam gasto médio de R$ 1.200 por transferência de alta complexidade. Com a expansão do HUM, cerca de 30 % dessas remoções devem ser evitadas. Multiplicado pelos 115 municípios da área de abrangência, o efeito é economia de milhões de reais ao ano, dinheiro que pode retornar à atenção básica.

Segurança, resíduos e sustentabilidade: o bastidor que garante escala sem colapso

A invasão de tecnologia sem infraestrutura de apoio costuma falhar. Por isso, obras “pouco fotogênicas” — nova central de resíduos, 457 câmeras de vigilância e retro-hospital — são consideradas pelos gestores como a engrenagem que viabiliza o salto assistencial. O bloco S37, por exemplo, garante descarte de material biológico em padrão internacional, condição para credenciar novos leitos de UTI e receber recursos federais.

O que acontece agora? O relógio corre para 2026

Com obras em ritmo acelerado, a direção trabalha com três marcos chave:

  • 2024 — 2025: entrega das seis salas cirúrgicas adicionais e consolidação do Centro de Ressonância como unidade de pesquisa.
  • 2025 — 2026: início do Centro de Reabilitação Física e Mental, modelo inédito para pacientes com TEA no interior do estado.
  • Pós-2026: ativação da nova maternidade de cinco andares, que dobrará a capacidade de partos de alto risco sem deslocamento para a capital.

Nesse horizonte, o HUM se posiciona não apenas como hospital, mas como plataforma regional de ciência aplicada à gestão do SUS. Para o usuário comum, o resultado tangível será fila menor e atendimento especializado perto de casa. Para o sistema, significa desconcentrar procedimentos de alta complexidade e criar um ciclo onde ensino produz pesquisa, que por sua vez retroalimenta a assistência — tudo dentro de um modelo 100 % público.

Por que isso importa para além de Maringá

A história do HUM ilustra um modelo replicável para outros polos universitários do interior brasileiro: alavancar recursos de pesquisa, ensino e assistência em um único fluxo para eliminar gargalos do SUS. Se funcionar, o laboratório vivo de Maringá pode servir de blueprint para redes estaduais que ainda dependem excessivamente de capitais.

O êxito, porém, dependerá da integração com atenção básica nos 115 municípios atendidos. Sem esse elo, o hospital corre o risco de virar “ilha de excelência” cercada por demanda represada. Os próximos anos dirão se a engrenagem criada neste aniversário de 37 anos conseguirá manter o ritmo — e, mais importante, se irá inspirar outras regiões a fazer o mesmo.

Crédito da Foto: Reprodução
Fonte das informações: Redação

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