Meninas negras lideram transformação do cenário da robótica na Bahia
Estar em um ambiente onde não se sente representada é a realidade para muitas mulheres ao ingressarem no mundo da robótica. Embora a primeira pessoa a programar tenha sido uma mulher, Augusta Ada Byron King, a área permanece dominada por homens. No entanto, as mulheres estão cada vez mais empenhadas em conquistar seu espaço nesse cenário, buscando se firmar no mercado e explorar suas habilidades nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM). Em Camaçari, dois projetos de robótica buscam transformar esse campo: o Tech Girls e o Robôchicas.
As Tech Girls, que são apoiadas pelo Colégio Sesi Milton Santos, Campus Camaçari, surgiram quando os professores e orientadores do projeto, Ricardo Silva e Vanessa Coelho, identificaram a baixa presença de mulheres nos campeonatos de robótica. “Nas competições, percebemos que havia poucas mulheres nos grupos ou, quando tinha, era comum a composição de 1 mulher e 3 homens ou 1 mulher e 2 homens. A partir dessa análise, logo fizemos o processo seletivo para criar essa equipe”, diz Ricardo.
O grupo iniciou os trabalhos em 2023, na Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR), com o robô Jaque, em homenagem à sua professora de geografia e à pesquisadora Jaqueline Goes. “Ainda há uma invisibilidade, uma subparticipação, devido aos processos estruturais, como o machismo. Além disso, estamos falando de mulheres negras. Essas meninas trazem consigo uma narrativa étnico-racial muito poderosa em suas trajetórias”, destaca a orientadora. O projeto, que venceu a OBR Nacional na categoria Responsabilidade Social e Divulgação Científica, também possui um podcast, no qual desmistificam temas relacionados à robótica.
Em busca da transformação
As jovens Ana Agapito, Beatriz Mota, Gabriela Salomão e Paula Anacleto identificaram que para mudar o cenário atual é preciso ampliar o olhar para fora das competições. Por isso, desenvolveram Oficinas de Robóticas para as estudantes de duas escolas públicas da região. “Na etapa prática, convidamos as meninas a entrarem nesse mundo da robótica. Mostramos a elas materiais que utilizamos e ajudamos a montar um pequeno robô. Elas programam, montam e, então, testamos o protótipo. Já no segundo momento, as levamos a uma discussão sobre a robótica voltada para o olhar social e falamos da ausência de meninas e mulheres negras na área”, afirma Beatriz.
Conforme as garotas, o foco das oficinas é fazer com que as estudantes vejam que podem atuar na robótica. “Nosso intuito é levar esperança, plantar nelas a esperança de dizer ‘esse local também é para mim’. O pertencimento é crucial. O nosso objetivo é esse, mostrar que aquele local também é para elas. Queremos fazer com que a robótica seja um local delas, para que elas pensem que podem fazer uma faculdade em TI, um curso, participar de uma competição e desenvolver um robô. Se sentirem pertencente daquilo”, projeta Paula.
Não precisa ser gênio
Quando se fala em robótica e tecnologia, muitas pessoas imaginam que precisam ser grandes gênios para atuar nessas áreas. Gabriela explica que isso é um grande mito. “Quando chegamos nas oficinas, falamos que para entender robótica não precisa ser um gênio. Foi isso que entendemos. No nosso processo, falamos ‘poxa, eu não preciso saber de muita coisa para estar aqui’, porque com o tempo fomos aprendendo e construindo”. Ana reforça que, para trabalhar nessa área, é preciso apenas dedicação. “Muitas meninas têm a ideia de que para fazer robótica precisa ser gênio, tem que entrar sabendo programar, e não é assim. É preciso apenas dedicação e ficar imersa ao tema”.
Robôchicas
Outro projeto de robótica liderado por mulheres são as Robôchicas, da Universidade Federal da Bahia (Ufba), em Camaçari. A ideia surgiu quando Ana Carolina Balbino e Fernanda Roza foram ministrar um curso em uma competição e sentiram falta da representação feminina. “Quando percebemos que não tinha equipe com mulheres, olhamos e falamos ‘Vamos nos levantar e lutar!’. E foi aí que nasceram as Robôchicas”, diz Ana. Nessa disputa, o grupo conquistou o 3° lugar.
As Robôchicas têm cerca de um ano de existência. Segundo as integrantes, o grupo já ganhou um campeonato, publicou dois artigos e realizou sete oficinas. Ao perceberem que para incluir mais mulheres nas competições era essencial levar conhecimento até elas, o foco da ação passou a ser os workshops. “Identificamos que precisávamos captar mais mulheres. Toda a capacitação nasce com o objetivo de ser um vetor de atração para as mulheres que ainda estão pensando e decidindo se querem o curso de ciência e tecnologia e para participar de competições”.
Com o projeto de capacitação, o grupo foi até a Campus Party Amazônia, com o apoio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) e da Ufba, para oferecer oficinas de robótica para mulheres. Segundo Fernanda, o objetivo é seguir ministrando cursos para o público feminino. “A perspectiva é continuar impactando mais mulheres na área da ciência e da tecnologia, usando a robótica como vetor principal, levando, principalmente, a representatividade negra”, revela. Além de Ana e Fernanda, fazem parte da equipe Larissa Maturino, Yasmin Solrac, Ana Carolina de Lemos, Amanda Vilas, Leticia Silva, Tamires Santos e Gabriele Natividade.
Fonte: Ascom/Secti
Rebeca Bastos