Encheu o tanque? Pode ter faltado gasolina: operação flagra fraude na Bahia

O motorista baiano que abasteceu esta semana em Cruz das Almas ou Sapeaçu pode ter recebido menos combustível do que pagou. Uma força-tarefa da Operação Combustível Legal lacrou 13 bombas, interditou três postos e recolheu placas eletrônicas depois de detectar que o visor exibia um volume superior ao realmente entregue nas mangueiras. O flagrante, realizado na segunda-feira (27) e divulgado nesta terça (28/10/2025), reforça um alerta: o golpe da bomba fraudada continua ativo e afeta diretamente o bolso do consumidor.

Como a fraude foi desmascarada em tempo real?

A investigação partiu de testes de vazão executados pelo Instituto Baiano de Metrologia e Qualidade (Ibametro). Técnicos compararam o volume mostrado no display com recipientes aferidos em laboratório. Em todos os casos, a diferença ficou acima da margem admissível. Para isolar a origem do problema, as equipes abriram as bombas e recolheram as placas de CPU — o “cérebro” do equipamento. Esse hardware vai passar por perícia para identificar se houve alteração de software ou instalação de dispositivos extras, prática comum em esquemas de fraude volumétrica.

O primeiro alvo, em Cruz das Almas, teve quatro bombas interditadas. Poucas horas depois, outro posto no mesmo município perdeu o funcionamento de três bombas suspeitas. Já em Sapeaçu, um terceiro estabelecimento foi completamente interditado, com seis bombas lacradas pelo mesmo motivo.

Por que o golpe é tão lucrativo – e caro para o motorista?

Quando a bomba “mente”, cada litro fantasma representa dinheiro a mais no caixa do posto e abastecimento menor no veículo do consumidor. Em fraudes investigadas anteriormente, a perda para o cliente costuma variar entre 5% e 10% por abastecimento. Isso significa que, a cada 40 litros pagos, o motorista pode estar levando até quatro litros a menos, o equivalente a um percurso urbano de 50 quilômetros desperdiçado.

Além do prejuízo direto, o carro pode apresentar falhas de autonomia, levando o condutor a abastecer mais vezes ou a acreditar que o consumo do veículo piorou. Em escala estadual, a prática distorce a concorrência: postos que jogam limpo perdem clientes porque não conseguem oferecer preços tão “atraentes” quanto os fraudadores.

Quem está por trás da fiscalização e quais punições já foram aplicadas?

O trabalho coordenado inclui órgãos estaduais e federais. Participam da força-tarefa:

  • ANP – autuou um dos postos por ostentar bandeira de distribuidora sem autorização.
  • Sefaz-BA – notificou o mesmo estabelecimento por operar com três máquinas de cartão desvinculadas do CNPJ, sinalizando possível sonegação.
  • Procon-BA – abriu processos administrativos que podem resultar em multas altas e até cassação de licença.
  • DPT – coletou amostras de combustível para análises químicas.
  • Polícia Militar da Bahia (Cipfaz) – garantiu a segurança e a lacração das bombas.

Cada órgão aplica sanções específicas. As medidas vão de multas que superam dezenas de milhares de reais à interdição total das atividades por tempo indeterminado. O diretor de Fiscalização do Procon-BA, Iratan Vilas Boas, reforça que o processo administrativo corre em paralelo às investigações criminais e tributárias.

“Interdição, multa e cassação de alvará são apenas parte do pacote. A empresa que engana o consumidor responde também por crime contra a ordem econômica.”

Iratan Vilas Boas, Diretor de Fiscalização do Procon-BA

Impacto regional: 60 postos na mira todo mês

Segundo o coordenador de Fiscalização de Petróleo e Combustíveis da Sefaz-BA, Olavo Oliva, a Operação Combustível Legal visita cerca de 60 postos por mês em todo o estado. A seleção dos alvos leva em conta denúncias de consumidores, cruzamento de dados fiscais e rotatividade incomum de estoque de combustível. O objetivo é ampliar a percepção de risco entre os empresários do setor, induzindo-os a adotar boas práticas para evitar punições que podem chegar ao fechamento definitivo.

“Quando o empresário entende que a chance de ser pego é alta, ele pensa duas vezes antes de fraudar. Isso nivela o mercado por cima e protege quem segue as regras.”

Olavo Oliva, Coordenador da Sefaz-BA

Como o consumidor pode se proteger — e denunciar

Embora a fiscalização seja permanente, o papel do motorista é crucial para detectar irregularidades rapidamente. Especialistas sugerem algumas práticas simples:

  1. Anote a quilometragem antes e depois de encher o tanque para avaliar o consumo.
  2. Solicite cupom fiscal detalhando litros e valor total.
  3. Desconfie de preços muito abaixo da média regional.
  4. Observe se o visor inicia em zero antes de abastecer.

Caso perceba qualquer anomalia, o cliente pode acionar a Operação Posto Legal pelos telefones 71 3235-0000 (Salvador e RMS) ou 181 (interior). Denúncias anônimas recebem o mesmo tratamento e aceleram a chegada da força-tarefa ao local.

Fraude volumétrica x qualidade do combustível: riscos adicionais

Nem sempre a adulteração do volume vem sozinha. Quando a placa de CPU já foi manipulada, aumenta a chance de que o combustível também esteja fora de especificação — seja por adição de solventes ou água. O Departamento de Polícia Técnica (DPT) coletou amostras nos três postos para avaliar densidade, teor de etanol e ponto de fulgor. Caso as análises confirmem contaminação, as multas podem dobrar e os responsáveis responderão a processos criminais por crime ambiental e contra o consumidor.

O que acontece agora?

As bombas lacradas permanecem interditadas até a conclusão dos laudos periciais. Se confirmada a fraude deliberada, os postos terão de substituir os equipamentos, pagar multas e apresentar defesa administrativa. A reincidência eleva a pena: na repetição do delito, a empresa pode perder a inscrição estadual, ficar impedida de comprar combustível de distribuidoras e ter a marca exposta em listas públicas de infratores.

Para o consumidor, o episódio serve de alerta permanente. Em um estado onde 60 postos são fiscalizados mensalmente, a probabilidade de novas operações é alta. A recomendação é abastecer em locais de confiança, guardar cupons fiscais e acompanhar a divulgação de empresas autuadas pelos órgãos de defesa do consumidor.

No curto prazo, a Operação Combustível Legal promete intensificar blitzes surpresas em municípios do Recôncavo e em outras regiões com histórico de denúncias. Motoristas que pretendem pegar estrada no feriado devem redobrar a atenção: preços atrativos demais podem ocultar litros fantasmas que saem caro no final.

Conclusão: vigilância constante e bolso protegido

A cada bomba lacrada se reforça uma mensagem: fraude em combustível não é pouca coisa, é crime que afeta milhares de motoristas e distorce todo o mercado. Com denúncias rápidas, fiscalização integrada e punições exemplares, a tendência é que o risco de ser enganado caia. Até lá, informação e atenção continuam sendo o melhor combustível para proteger seu dinheiro.

Crédito da foto: Foto: Reprodução

Fonte das informações: Ascom/Sefaz-BA

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo