Fórum de Mulheres na Saúde vira peça-chave para turbinar políticas de gênero no SUS

Em um movimento calculado para reposicionar a agenda de gênero no centro do Sistema Único de Saúde (SUS), o governo federal inaugurou nesta terça-feira (28) o Fórum de Mulheres na Saúde, iniciativa que promete transformar escuta social em políticas públicas concretas — e que já nasce com a missão de responder às principais dores de quem representa 75% da força de trabalho do SUS e a maioria dos seus usuários: as mulheres.
Por que este fórum foi criado agora?
O anúncio, feito em Brasília por Alexandre Padilha (Saúde) e Márcia Lopes (Mulheres), ocorre em um momento em que o Ministério da Saúde declara a saúde feminina como prioridade absoluta. Na sede da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Padilha sintetizou o ponto-chave:
“Quem mais usa o SUS são as mulheres… No SUS, 75% dos profissionais são mulheres. Então, tem que ser uma prioridade absoluta.”
Alexandre Padilha, ministro da Saúde
Além do peso estatístico, a medida também sinaliza uma resposta institucional a pautas como dignidade menstrual, violência de gênero e atenção ao ciclo reprodutivo completo — temas que ganharam força nas conferências nacionais de saúde e nos movimentos de base ao longo de 2024.
O detalhe que pouca gente percebeu: caráter consultivo e propositivo
Diferente de grupos de trabalho temporários, o Fórum nasce com a proposta de ser permanente. Sua função é dupla:
- Consultiva — captar demandas de diversos segmentos femininos (profissionais, usuárias, ativistas, coletivos urbanos e rurais).
- Propositiva — transformar essa escuta em recomendações formais encaminhadas às secretarias do Ministério da Saúde.
Na prática, significa que agendas como saúde menstrual, menopausa, saúde mental e prevenção de câncer terão um canal institucional de pressão contínua, diminuindo o tempo entre demanda social e execução orçamentária.
O que já está na mesa de discussão?
De acordo com a apresentação oficial, sete grandes eixos serão monitorados pelo colegiado:
- Saúde sexual e reprodutiva
- Atenção ao parto e ao pós-parto
- Menopausa e climatério
- Saúde menstrual
- Violência de gênero
- Saúde mental
- Prevenção de câncer (mama, colo de útero, ovário)
Cada eixo terá grupos temáticos formados por representantes da sociedade civil, técnica do SUS e especialistas convidados. A primeira reunião plenária já tem data: janeiro de 2026, prazo definido para que os grupos preparatórios coletem diagnósticos regionais.
Quem sentará à mesa — e por quê isso importa?
Para a ministra Márcia Lopes, reunir vozes diversas é a rota mais curta até políticas que reflitam realidades locais:
“Nós temos nos estados e nos municípios grupos… que conhecem a realidade local e que têm respostas para ela.”
Márcia Lopes, ministra das Mulheres
Entre as apoiadoras presentes, nomes conhecidos da opinião pública, como Lu Alckmin e Luiza Brunet, endossaram o valor de um espaço institucionalizado de escuta. Mas é a presença de lideranças de base que indica o tom do fórum:
- Elisandra Martins de Freitas (MC Lis, hip-hop) cobrou foco na saúde mental.
- Aline Sousa (Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis) destacou que 72% das trabalhadoras do setor são negras e precisam ser ouvidas.
A composição plural evita que o fórum se transforme em mera vitrine política e reforça a legitimidade das recomendações futuras.
Impacto imediato: programas já em curso ganham reforço
Embora o colegiado seja recém-criado, projetos que já estão rodando no Ministério da Saúde tendem a receber insumos diretos do grupo de mulheres. Entre eles:
- Dignidade Menstrual — lançado em 2024, distribui 392 milhões de absorventes gratuitos a 3,7 milhões de brasileiras.
- Rede Alyne — R$ 1,2 bilhão direcionados à atenção materna e infantil.
- Sala Lilás — unidades de acolhimento para vítimas de violência.
Ao conectar essas ações ao Fórum, o ministério obtém feedback estruturado, algo vital para destravar recursos adicionais dentro do ciclo orçamentário de 2025.
Como isso muda a experiência de quem usa o SUS?
Para a usuária, as alterações mais perceptíveis devem ocorrer em duas frentes:
- Qualidade do atendimento — protocolos poderão ser ajustados com base na escuta de profissionais da ponta. Isso inclui humanização do parto, acompanhamento pós-parto e oferta ampliada de métodos contraceptivos.
- Acesso a insumos — experiências do Programa Dignidade Menstrual serão replicadas em outros itens de cuidado íntimo e de saúde mental, reduzindo desigualdades entre regiões.
Na visão de um especialista do setor, integrar recomendação popular ao planejamento de compras públicas acelera a chegada de recursos onde a demanda é mais urgente, mitigando o gargalo histórico entre Brasília e municípios remotos.
O que vem depois da primeira reunião oficial?
Até janeiro de 2026, os grupos temáticos devem:
- Mapear lacunas de serviços regionais.
- Entregar relatórios de prioridades por eixo temático.
- Sugerir indicadores de monitoramento para avaliar a eficácia das futuras ações.
Em paralelo, o Ministério da Saúde pretende integrar o painel do Fórum à plataforma digital de participação social do governo, facilitando contribuições on-line e transparência em tempo real.
O ponto cego que o Fórum pretende atacar
Apesar de avanços em mortalidade materna e ampliação de serviços, violência de gênero e saúde mental permanecem subfinanciadas. Para MC Lis, o segredo é evitar duplicidade de esforços:
“A gente não precisa reinventar a roda… buscar saber quais movimentos já acontecem no território.”
Elisandra Martins de Freitas, assistente social
Nesse sentido, o Fórum age também como curador de iniciativas existentes, garantindo que políticas validadas localmente escalem para o plano nacional sem dispersão de recursos.
Por que o setor de reciclagem entrou na conversa?
Quando Aline Sousa explicou que 80% da força de trabalho em reciclagem é feminina, colocou luz em uma conexão pouco comentada: saneamento básico, reciclagem e saúde pública são vasos comunicantes. Menos lixo acumulado significa menos vetores de doenças — um ganho sanitário que impacta diretamente comunidades de baixa renda, onde moram muitas catadoras.
Ao incluir esse segmento, o Fórum amplia sua abrangência e reforça o conceito de saúde integral, que vai além do atendimento clínico tradicional.
O que isso significa para o futuro da saúde da mulher no Brasil?
Na prática, o Fórum de Mulheres na Saúde funciona como um catalisador entre vozes sociais e gestores públicos. Com reuniões periódicas, indicadores pactuados e a pressão legítima de quem vivencia o SUS diariamente, a expectativa é de que temas historicamente secundários — como menopausa, saúde menstrual e a transversalidade racial — avancem da pauta de reivindicação para a linha de execução orçamentária em menos tempo.
Crédito da Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Fonte das informações: Redação
 
				 
					





