Estados unem forças para fortalecer Disque Denúncia 181 no Brasil

Em Curitiba, representantes de 17 centrais do Disque Denúncia desembarcaram nesta semana para um compromisso ambicioso: redesenhar, em poucas horas de debates, o futuro do canal anônimo que ajuda a polícia a prender criminosos em todo o Brasil. O II Encontro Nacional das Centrais Disque Denúncia, hospedado pela Secretaria da Segurança Pública do Paraná (Sesp), vai até sexta-feira (31) e já colocou em pauta a criação de padrões únicos, novas recompensas e integração total de dados.

Por que 17 Estados escolheram Curitiba para redefinir o 181?

O Paraná não foi escolhido por acaso. Nas palavras do coronel Adilson Luiz Prusse, diretor-geral da Sesp, o estado tem uma gestão de segurança construída em cima da palavra “integração”. Isso inclui forças policiais, entidades civis e agora um grande leque de servidores de diferentes regiões do país. O encontro nasceu do desejo — expresso ainda na primeira edição, no Rio de Janeiro, em 2024 — de criar um fórum permanente para troca de experiências.

“Nossa gestão é marcada pela integração das forças de segurança. Reunir civis e militares com forte representação feminina para discutir denúncias anônimas é uma honra.”

Adilson Luiz Prusse, diretor-geral da Sesp

Desde a instalação do Disque Denúncia 181 no Paraná, em 2003, o canal evoluiu de um telefone focado apenas em tráfico de drogas para uma plataforma que já aceita 58 tipos diferentes de crime, de feminicídio a crimes ambientais. Em 2016, um decreto estadual consolidou o modelo atual, elevando o estado a referência técnica entre as demais centrais. Esse histórico pesou na decisão de trazer a segunda edição do encontro para a capital paranaense.

Integração e recompensa: o que muda para quem denuncia?

O lema do evento deste ano pode ser resumido em três palavras: padronizar, bonificar, proteger. Primeiro, os gestores buscam padronizar fluxos de atendimento e indicadores de performance, permitindo comparar resultados entre estados. Segundo, discutem a ampliação do programa de recompensas para denúncias que levem à prisão de procurados ou à apreensão de cargas ilícitas. Terceiro, reforçam protocolos de sigilo, ponto vital para manter a confiança de quem liga ou acessa o site www.181.pr.gov.br.

De acordo com o tenente-coronel Walter Antônio de Aguiar, coordenador do 181 paranaense, a primeira edição no Rio serviu de laboratório. O contato com experiências de outros estados revelou ferramentas que agora desembarcam em solo paranaense. “Conhecemos modelos que nos ajudaram a aprimorar o programa de recompensas que será implantado aqui”, adiantou o oficial.

  • Recompensas financeiras escalonadas para denúncias qualificadas;
  • Envio digital de provas (fotos, vídeos) com criptografia end-to-end;
  • Painéis de gestão compartilhados, permitindo visão nacional dos indicadores.

Para o coordenador-geral do Disque Denúncia do Rio de Janeiro, Renato Almeida, encontros regulares evitarão que cada central “reinvente a roda” e acelerarão soluções contra o crime. A sintonia fina inclui desde discursos unificados em campanhas de mídia até ajuste de softwares de triagem.

Dados inteligentes: como business intelligence turbina investigações

Se padronizar processos é um objetivo, alimentar sistemas de inteligência é a espinha dorsal do plano. Durante o primeiro dia de evento, o agente de polícia judiciária Gladson Fabian Marques e o soldado Ângelo Sirino Pedro contaram bastidores de 20 anos do Centro de Análise, Planejamento e Estatística (Cape), núcleo que começou com planilhas e hoje opera ferramentas de Business Intelligence (BI) e o Sistema de Controle de Ocorrências Letais (SCOL).

“A autonomia para especializar mapas e auditar dados de drogas ou mortes violentas torna nossos relatórios muito mais confiáveis para o gestor público.”

Gladson Fabian Marques, agente do Cape

Na prática, os relatórios do Cape permitem que comandantes enviem patrulhas para endereços apontados pelo 181 antes mesmo de a denúncia virar ocorrência. Dados consolidados em dashboards mostram horários de maior incidência, padrões de fuga e rotas de receptação.

Com a chegada de informações de mais 16 estados e do Distrito Federal, o banco de dados ganhará uma camada nacional de correlação. Tentativas de usar múltiplos chips, por exemplo, poderão ser rastreadas através de cadastros cruzados — sempre mantendo o anonimato do denunciante, garantem os participantes.

Qual a importância de manter o anonimato absoluto?

A confiança do público é o capital mais precioso do Disque Denúncia. O sistema usa linhas digitais criptografadas e não grava número de telefone. O operador recebe somente o relato, sem qualquer dado pessoal. Em seguida, o conteúdo é enviado para o Centro Integrado de Denúncias, onde analistas experientes filtram, validam e pontuam a informação.

Segundo Josafá Leite Ribeiro, diretor da Divisão de Controle de Denúncias da Polícia Civil do DF, divulgar constantemente esse mecanismo seguro é essencial para elevar o volume de ligações qualificadas: “A população precisa saber que pode colaborar sem se expor”.

Da denúncia ao flagrante: passo a passo acelerado

  1. Recepção anônima via 181 ou formulário online;
  2. Triagem inicial e classificação de risco;
  3. Cruzamento em tempo real com bancos de mandados e estatísticas;
  4. Despacho para a força policial competente;
  5. Retorno e fechamento do ciclo, alimentando BI com o desfecho.

Com procedimentos iguais em todo o Brasil, a expectativa é que o tempo do primeiro ao quinto passo caia, em média, para poucas horas em casos de urgência — como sequestro ou feminicídio em andamento.

O que muda para o cidadão comum?

A curto prazo, o canal 181 continua exatamente como está: ligação gratuita ou formulário na web. A grande diferença virá nos bastidores, com filtros mais precisos que reduzem o desperdício de recursos policiais. A médio prazo, moradores de qualquer estado poderão acompanhar relatórios de efetividade divulgados periodicamente, estimulando ainda mais a cultura de denúncia.

Outro ganho está no programa de recompensas, que passará a contar com faixas diferenciadas — pequenos valores para informações sobre roubos de carga, cifras maiores ligadas a homicidas procurados. O modelo paranaense, em fase final de ajustes, é visto como teste para posterior adoção nacional.

E agora: quando o novo modelo chega ao seu telefone?

Os grupos de trabalho formados no encontro entregarão, até o final de 2024, um documento com diretrizes unificadas. A implantação efetiva dependerá de ajustes tecnológicos em cada central, mas a meta é iniciar a fase piloto ainda no primeiro trimestre do próximo ano, começando pelo Paraná e expandindo em ondas para as demais regiões.

Para quem já utiliza o Disque Denúncia, a recomendação permanece: diante de qualquer crime, ligue 181 ou acesse o site oficial. Enquanto especialistas refinam algoritmos e protocolos, a colaboração do cidadão continua sendo a peça-chave para transformar informação em ação rápida e, no limite, salvar vidas.

Crédito da foto: Foto: Reprodução

Fonte das informações: Secretaria da Segurança Pública do Paraná (Sesp)

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