Milagre no saibro indoor: João Fonseca vira sobre Shapovalov e incendia o Masters de Paris

O relógio marcava pouco mais de duas horas de partida quando João Fonseca ergueu o punho fechado, gritou “vamos!” e calou um Palais Omnisports lotado. Aos 19 anos, o carioca número 28 do mundo derrubou o canadense Denis Shapovalov (24º) por 5/7, 6/4 e 6/3, estreando com vitória de virada no Masters 1000 de Paris. O triunfo não foi só mais um resultado: foi a segunda vez em quatro dias que o brasileiro superou o ex-top 10 e, desta vez, sem qualquer abatimento físico do rival para justificar. Foi raça, adaptação e, acima de tudo, a prova de que o tênis nacional volta a ter um nome grande em torneios gigantes.
Por que esta virada muda o patamar do brasileiro?
Até janeiro, Fonseca ocupava a 145ª posição do ranking. A ascensão meteórica incluiu o título do ATP 500 de Basileia no domingo anterior à partida em Paris. Mesmo embalado, o carioca encarou condições totalmente diferentes: bola mais pesada, quadra indoor veloz e o desgaste natural de quem veio de cinco partidas em uma semana.
No primeiro set, o canadense trabalhou melhor o saque e quebrou no 11º game. Parecia o roteiro ideal para Shapovalov se vingar da desistência em Basileia, mas a história virou quando Fonseca saiu da quadra para receber atendimento na coxa esquerda no terceiro set. O susto físico aflorou o seu melhor tênis. Ele voltou devolvendo com profundidade, subindo à rede e, sobretudo, mantendo o primeiro saque acima de 70% de aproveitamento na parcial decisiva.
“Sabia que a torcida brasileira viria em peso aqui em Paris. Usei essa energia para me manter agressivo do começo ao fim.”
João Fonseca, após a partida
Virar um top 25 em um Masters 1000 exige não só talento, mas consistência – justamente o ponto que mais se cobra de jovens. Fonseca entregou consistência ao finalizar com 25 winners contra 18 erros não forçados, estatística divulgada pela organização logo após o duelo.
O detalhe que explodiu as redes: lesão, gelo na veia e 2 h05 de intensidade
Quem acompanhou pelo streaming oficial viu a fisioterapeuta entrar em quadra quando o brasileiro acusava incômodo muscular. A pausa de três minutos gerou burburinho no X (ex-Twitter): perfis comentavam se ele conseguiria manter o ritmo de pernas. A resposta veio em forma de passos curtos, contragolpes certeiros e uma quebra logo no primeiro game depois do atendimento. Nos 20 minutos seguintes, Fonseca abriu 4/1 e não olhou mais para trás.
O dado curioso é que, no set final, o canhoto Shapovalov não ganhou nenhum ponto quando o primeiro saque não entrou. Foram sete second serves convertidos em sete erros forçados pelo rival brasileiro. Em outras palavras, Fonseca aplicou pressão cirúrgica exatamente onde o canadense costuma se salvar.
Impacto imediato: chave aberta e duelo inédito com Khachanov
A recompensa pela vitória é encarar o russo Karen Khachanov (14º), nesta quarta-feira (29), às 16h10 (de Brasília). Nunca se enfrentaram. O grande trunfo de Khachanov – potência de fundo e peso de bola – costuma render melhor em quadras indoor, mas o brasileiro chega com confiança e ritmo de competição.
- Quem vencer avança às oitavas de final.
- Uma nova vitória pode colocar Fonseca no top 25 já na próxima atualização do ranking, conforme cálculo de especialistas.
- Se passar, o carioca igualará sua melhor campanha em Masters 1000.
Para o tênis nacional, o timing é valioso: depois de anos sem representantes constantes na segunda semana de grandes eventos, a combinação de agressividade juvenil e cabeça fria recoloca o Brasil no radar.
Por que a torcida brasileira tomou conta de Paris?
A cidade luz nunca foi exatamente um reduto verde-amarelo fora da temporada de saibro, mas a sequência de feriados no Brasil estimulou grupos de fãs a viajar. Relatos de jornalistas presentes descrevem bandeiras espalhadas por três setores da arena central. A explicação prática é a migração histórica de brasileiros para a Europa nessa época do ano, mas existe também o fator novidade: ver de perto o primeiro tenista do país no top 30 desde 2016 (dado corroborado pela ATP) cria um senso de pertencimento raro.
O que acontece com Shapovalov após duas derrotas seguidas?
Na sexta-feira, o canadense abandonou com dores na coxa em Basileia. Em Paris, entrou sem restrições médicas, porém visivelmente em busca de ritmo. A análise de comentários pós-jogo na sala de imprensa indica que ele e seu staff decidirão nos próximos dias se encerra a temporada, optando por recuperação total. Se confirmar a pausa, deve cair algumas posições, mas ainda se manterá cabeça de chave na Austrália.
Efeito dominó: Luisa Stefani, Babos e a maratona brasileira na elite
Enquanto Fonseca abraçava seu time na saída da quadra, a paulista Luisa Stefani acompanhava tudo a partir de Riad, onde disputará o WTA Finals em parceria com a húngara Timea Babos. A dupla caiu no grupo Liezel Huber, ao lado de Townsend/Siniaková, Dabrowski/Routliffe e Shnaider/Andreeva. É a primeira presença de Stefani na competição que reúne as oito melhores duplas do ano, e a coincidência de datas criou uma semana de pico para o tênis brasileiro: jogos decisivos em dois continentes diferentes.
No X, Babos parabenizou Fonseca: “Inspiração total, vemo-nos na Austrália!”. A interação gerou mais de 50 mil curtidas em quatro horas, ilustrando como as vitórias se retroalimentam em engajamento digital.
O que isso significa para o futuro imediato do tênis brasileiro?
A soma de pontos, visibilidade e resultados em 2025 impulsiona projetos de base, atraindo patrocínio privado e curiosidade de novos fãs. Em curto prazo, federações regionais já sinalizam eventos exibição com Fonseca na pré-temporada. Para quem acompanha a modalidade, a virada sobre Shapovalov sela a narrativa de um jogador que não depende apenas de potencial, mas entrega performance sob pressão.
As próximas 24 horas em Paris responderão se o corpo do carioca estará pronto para outro duelo intenso. Caso confirme a condição física e avance, terá pela primeira vez a possibilidade de enfrentar um top 10 em um palco desse tamanho. Mesmo que a caminhada pare na segunda rodada, o impacto já é mensurável: aumento de seguidores nas redes, maiores valores de premiação e uma confiança que só vitórias em Masters 1000 proporcionam.
Olho no relógio: o passo seguinte que pode redefinir a temporada
Fonseca deixou a quadra falando em “semana nova, oportunidade nova”. Se mantiver o mantra, o Brasil pode assistir, ainda esta semana, à confirmação de seu representante no top 25. A lógica é simples: sonhos grandes exigem vitórias grandes – e elas estão vindo em sequência. O tênis nacional, que por vezes caminhou no escuro nos últimos anos, agora enxerga um farol aceso em Paris.
Foto: ATP Tour / Reprodução
Fonte das informações: RolexPMasters/X
 
				 
					





