Do colégio ao red carpet: descubra quem brilha no Bahia em Cena

Mais de 150 produções estudantis invadem as telas de Salvador a partir desta terça-feira (29). É a reta final do Festival Bahia em Cena, que transforma o cinema em braço da educação pública ao premiar curtas de Ensino Médio, Técnico e Superior. Durante dois dias, espectadores poderão maratonar histórias inéditas no Cineteatro 2 de Julho e acompanhar, no Cine Glauber Rocha, a revelação dos vencedores — um verdadeiro “red carpet” baiano onde a principal estrela é a criatividade juvenil.

Por que 150 jovens cineastas decidiram encarar o “Oscar” baiano?

O festival nasceu dentro do Centro Estadual de Educação Profissional (CEEP) Formação e Eventos Isaías Alves – ICEIA com o lema “Do olhar do estudante, nasce a nova cena do cinema da Bahia”. Ao posicionar a escola pública como laboratório de inovação cultural, a mostra passou a receber roteiros que dialogam com temas urgentes — identidade, resistência, meio ambiente e cotidiano periférico — a partir de narrativas que cabem em até 15 minutos.

Em 2025 o evento bateu recorde de inscrições: 150 vídeos enviados por alunos e educadores de todo o estado. O volume é explicado por duas forças convergentes. Primeiro, a popularização de equipamentos de baixo custo (incluindo câmeras de smartphone) que reduzem barreiras técnicas. Segundo, a atuação de professores de artes, história e comunicação, que transformaram a realização audiovisual em projeto pedagógico anual.

Experiência transformadora: o que dizem os participantes?

Entre os finalistas, chama a atenção o depoimento de Israel Nascimento, 20 anos, aluno do curso técnico de Produção de Áudio e Vídeo do ICEIA. Ele define o festival como “um espaço de troca genuína” que renova a arte ao aproximar quem cria e quem assiste.

“Estar entre os selecionados é inspirador e cativante. O ambiente respira criatividade e incentiva alunos que nunca tinham segurado uma câmera.”

Israel Nascimento, estudante de Produção de Áudio e Vídeo

A visão encontra eco em Fabiana Moura, coordenadora pedagógica do Colégio Estadual Luísa Mahim, em Jequié. Seu grupo assina “Luísa Mahim: ecos de resistência”, documentário que conecta a heroína da Revolta dos Malês à comunidade do Mandacaru.

“Queremos romper a lógica que resume nosso bairro à dor. Os alunos protagonistas realizam um sonho coletivo.”

Fabiana Moura, coordenadora pedagógica

Programação gratuita: quando, onde e como assistir?

  • 29 de abril (terça) – Sessões das 10h às 17h30
    Local: Cineteatro 2 de Julho – Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (IRDEB), Federação.
  • 30 de abril (quarta) – Premiação às 14h
    Local: Cine Glauber Rocha – Praça Castro Alves, Centro de Salvador.

A entrada é franca, sujeita à lotação. Professores têm organizado caravanas escolares para garantir plateia cheia nas mostras matutina, vespertina e noturna.

Quais filmes estão na disputa pelas principais estatuetas?

Os curtas concorrem em 12 categorias por nível de ensino, entre elas Direção, Roteiro, Fotografia, Ator, Atriz, Documentário e Edição. A seguir, alguns dos títulos que representam o mosaico de temas abordados:

  • Ensino Médio (sessão 10h) – De dramas psicológicos como “Entre o Silêncio e o Grito” a reflexões identitárias em “Quem Sou Eu?”, passando por “Luísa Mahim, Ecos de Resistência”, que resgata lideranças negras.
  • Ensino Técnico (sessões 13h e 15h) – Reportagens experimentais ganham força em “Corrida pela Sobrevivência”, sobre motoristas de aplicativo, enquanto “É Necessário Ter um Coração?” analisa empatia num mundo hiperconectado.
  • Ensino Superior (sessão 17h30) – “Sankofa” mergulha na ancestralidade africana e “Mimó, Mãos Sagradas” revela um artesão que transforma madeira em poesia.

Essa vitrine resume o caráter plural do festival, onde ficção, documentário e animação dividem a mesma tela. Ao final, os vencedores ganham troféus e mentoria para circular em mostras nacionais.

Qual o impacto para a educação e para o mercado audiovisual baiano?

Ao transformar laboratórios escolares em sets de filmagem, o Bahia em Cena ajuda a qualificar mão de obra para o crescente polo audiovisual do estado. Dados da Secretaria de Cultura indicam aumento de 40 % no número de produções independentes rodadas na Bahia nos últimos três anos. Embora o festival não distribua prêmios em dinheiro, o networking com produtores locais já garantiu estágios e contratos de prestação de serviços para ex-participantes.

Além disso, estudiosos de educação apontam que projetos interdisciplinares, como a realização de um curta, elevam índices de permanência escolar e desenvolvem competências socioemocionais — trabalho em equipe, liderança e pensamento crítico — alinhadas à nova BNCC.

Da tela do celular à projeção de 10 metros: como os filmes são produzidos?

A maior parte das obras parte de roteiros colaborativos, escritos em oficinas de escrita criativa. A captação costuma ser feita com smartphones intermediários e luz natural, enquanto softwares de edição gratuitos, como DaVinci Resolve ou plataformas mobile, finalizam o material. Educadores funcionam como produtores executivos, garantindo cronograma e cessão de equipamentos básicos (microfones Lapela, ring lights e tripés). Esse modelo “faça você mesmo” provoca um boom de narrativas que dificilmente teriam espaço em canais convencionais.

O que acontece depois da premiação?

Após o anúncio no Cine Glauber Rocha, os organizadores planejam disponibilizar uma mostra online com os melhores trabalhos, ampliando o alcance para além da capital. Há ainda conversas para levar um recorte especial ao Festival Panorama Coisa de Cinema e a circuitos universitários do Nordeste.

Para os estudantes, o troféu funciona como cartão de visitas em editais de fomento e, em muitos casos, define o ingresso em cursos superiores de cinema ou comunicação. Já para o público baiano, o evento consolida a percepção de que o próximo grande nome do audiovisual pode estar sentado na carteira escolar ao lado.

Conclusão: por que vale reservar espaço na agenda?

O Bahia em Cena oferece ao espectador duas oportunidades raras: acompanhar a primeira exibição pública de 150 obras e testemunhar a evolução de uma geração que aprende cinema enquanto faz cinema. Para quem sonha ingressar no setor, observar a premiação é aula de roteiro, produção e networking em tempo real. Para quem só quer bons filmes, é garantia de roteiros frescos, sotaques autênticos e temáticas socialmente pulsantes — tudo sem pagar ingresso.

Na quarta-feira, quando as luzes se apagarem e os aplausos ecoarem na Praça Castro Alves, ficará a certeza de que a escola pública baiana não apenas forma alunos, mas também autores responsáveis por reescrever a própria história nas telonas. E esse pode ser o maior prêmio de todos.

Crédito da foto: Reprodução/Vídeo Instagram

Fonte das informações: Ascom/SEC

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