O que Rui Costa e Lewandowski podem decidir hoje sobre crise no Rio

Brasília tremeu antes do amanhecer: em poucas horas, o Palácio do Planalto convocou uma mesa de emergência que reúne os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública) com o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro. O motivo imediato é a Operação Contenção, realizada ontem nos complexos do Alemão e da Penha, que terminou com 64 mortos — o maior número de vítimas já registrado em ação policial no estado. A pergunta que paira sobre o país é simples e brutal: o que será feito depois de uma das noites mais sangrentas da história recente do Rio?
Por que a reunião foi marcada às pressas?
No início da noite de terça-feira, circulou nos bastidores do governo federal a informação de que não havia qualquer pedido formal de suporte do estado do Rio para a operação que já estava em andamento. A lacuna na coordenação acendeu o sinal vermelho no Planalto. Uma fonte ligada à articulação política resume o clima: “Quando você tem 64 corpos e nenhuma comunicação oficial, é preciso agir imediatamente”.
Ao longo da madrugada, Rui Costa e Lewandowski alinharam com seus respectivos secretários uma pauta mínima: descobrir por que a operação aconteceu sem consulta prévia, avaliar a legalidade das investidas policiais e, principalmente, decidir quais forças serão mobilizadas para evitar que a violência se espalhe.
64 mortes em 24 horas: o retrato de uma operação sem precedentes
Segundo o balanço divulgado pelas autoridades, a Operação Contenção foi planejada pela cúpula da segurança fluminense para “neutralizar” células do crime organizado responsáveis por bloqueios de vias expressas e sequestros de ônibus. O saldo — 64 vítimas fatais — supera episódios considerados marcantes, como a ação no Jacarezinho em 2021.
Especialistas do setor apontam que, além do número de mortos, a característica que torna a operação singular é o impacto sobre moradores que ficaram ilhados em casa e sobre os serviços públicos, alguns dos quais precisaram suspender atendimento.
O que está sobre a mesa: transferência de líderes do crime para presídios federais
Antes mesmo de chegar a Brasília, o governador Cláudio Castro protocolou pedido para transferir dez detentos para unidades federais de segurança máxima. De acordo com o governo fluminense, esses presos teriam comandado, de dentro das cadeias estaduais, as ações que aterrorizaram a população do Rio.
- Quem decide? A responsabilidade final é do Ministério da Justiça, hoje ocupado por Lewandowski.
- Prazos possíveis: técnicos do sistema penitenciário federal estimam que o deslocamento pode ocorrer “nos próximos dias”, dependendo da logística de escolta aérea ou terrestre.
- Objetivo declarado: cortar a comunicação dos líderes com comparsas fora das prisões.
Rui Costa, por sua vez, deve cuidar do aspecto político: costurar acordo para que a União custeie parte da transferência e evitar que o tema se torne munição eleitoral.
Quem estava na sala: bastidores do encontro no Planalto
Horas antes da chegada de Castro, um primeiro encontro na Casa Civil reuniu o presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin, e uma equipe multidisciplinar que inclui a ministra Gleisi Hoffmann e o advogado-geral da União, Jorge Messias. O objetivo foi analisar as consequências jurídicas da operação e alinhar a estratégia de comunicação aos estados.
“Durante a reunião, as forças policiais e militares federais reiteraram que não houve qualquer consulta ou pedido de apoio, por parte do governo estadual do Rio de Janeiro, para realização da operação.”
Nota oficial do governo federal
Em termos diplomáticos, a declaração explicitou o desconforto de Brasília com a condução da ação fluminense. Para observadores do Planalto, a frase também abre margem para que a União passe a exigir protocolos de cooperação mais rígidos em operações de grande porte.
Impacto político imediato: quem ganha e quem perde
Analistas de mercado classificarão, nas próximas horas, o desfecho da reunião como termômetro para duas agendas sensíveis:
- Segurança pública: eventual intervenção federal está fora de cogitação neste momento, mas a possibilidade entra no radar caso novos confrontos ocorram sem planejamento integrado.
- Relação União–estados: governadores observam com atenção se o Planalto adotará uma postura mais centralizadora em futuras operações, algo que pode redefinir o pacto federativo na área de segurança.
Para Castro, o risco político é duplo: ser visto como governante que perdeu controle da violência e, simultaneamente, como líder que não dialoga com a esfera federal. No Planalto, há a leitura de que Rui Costa assume papel de “bombeiro” — moderando tensões e oferecendo soluções logísticas, enquanto Lewandowski focaliza as medidas legais.
Próximos passos esperados após a reunião
Embora nada tenha sido decidido oficialmente até o momento, interlocutores envolvidos na preparação do encontro elencam cinco linhas de ação consideradas prioritárias:
- Envio de Força Nacional em caráter preventivo, caso as autoridades estaduais solicitem formalmente.
- Criação de gabinete permanente de crise entre União, estado e municípios da região metropolitana.
- Aumento do monitoramento de inteligência sobre facções e sobre a logística de armas e drogas que abastecem as comunidades.
- Revisão de protocolos de comunicação entre polícias estadual e federal para evitar operações “surpresa”.
- Assistência social emergencial a moradores afetados pela operação, em parceria com o Ministério dos Direitos Humanos.
O que acontece agora? Possíveis desdobramentos nas próximas semanas
Os desdobramentos da reunião devem reverberar em diferentes esferas. No Congresso, parlamentares prometem audiências para cobrar explicações sobre o elevado número de mortes. Organizações da sociedade civil pressionarão pela responsabilização de agentes públicos, enquanto familiares das vítimas buscam apoio jurídico. Analistas indicam que o governo federal tentará transformar a crise em oportunidade para estabelecer um novo protocolo nacional de grandes operações policiais.
Para quem vive no Rio de Janeiro, o resultado prático será medido no curto prazo: se as comunidades permanecerem em relativa calma, o governo estadual ganha fôlego político; se novos incidentes irromperem, a cobrança por intervenção federal tende a crescer.
Em meio a incertezas, um ponto é consenso entre autoridades e especialistas: a coordenação intergovernamental deixou de ser opção e passou a ser necessidade imediata. As próximas horas dirão se a reunião de hoje inaugura um pacto efetivo ou se apenas prolonga uma crise que já cobra um preço alto demais em vidas.
Crédito da foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Fonte das informações: Agência Brasil
 
				 
					





