COP30: Cientista-chefe convoca mutirão global contra crise climática e mantém foco em meta de carbono zero

Thelma Krug, coordenadora do Conselho Científico sobre o Clima que assessorará a COP30, afirmou que o êxito da conferência em Belém dependerá de um “mutirão” de países e setores para acelerar ações concretas contra a emergência climática, sem esperar que recursos financeiros de nações ricas resolvam todos os impasses.

Integrado por 11 especialistas — seis brasileiros e cinco estrangeiros —, o conselho fornecerá pareceres técnicos diretamente ao presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago. O grupo já iniciou rodadas de análise sobre estratégias de remoção de dióxido de carbono, balizando negociações que ocorrerão antes e durante o encontro da ONU, agendado para novembro de 2025 na capital paraense.

Pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Krug reúne mais de duas décadas de atuação no Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), onde foi vice-presidente até 2023. A cientista levou sua mensagem de mobilização ao debate “Esse tal Efeito Estufa”, promovido pelo Instituto Clima e Sociedade durante a Rio Climate Action Week, quando reiterou que derrotismo climático alimenta ansiedade principalmente em jovens e enfraquece a disposição para agir.

Segundo Krug, o conselho decidiu priorizar recomendações sobre reflorestamento em larga escala, captura tecnológica de CO₂ e estocagem em formações geológicas oceânicas. Essas propostas, disse a pesquisadora, são vitais porque os cenários de emissões atuais tornam “muito improvável” alcançar 2050 com emissões líquidas zero apenas via cortes convencionais. Manter o aquecimento global abaixo de 1,5 °C exigirá, portanto, combinar redução drástica de fontes fósseis com remoção ativa de carbono da atmosfera.

A cientista destacou que a janela temporal para limitar o aumento de temperatura está se estreitando. “Os próximos cinco anos serão decisivos, e as soluções precisam chegar ao chão das políticas públicas”, alertou. Para ela, o mérito da COP30 será medido não por declarações grandiosas, mas pela capacidade de garantir que compromissos multilaterais avancem em ritmo uniforme, evitando retrocessos decorrentes de interesses nacionais conflitantes.

Krug citou o processo decisório da Convenção do Clima, que exige consenso de mais de 190 partes, como um desafio político permanente. O risco de fragmentação aumentou após a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris, ainda que temporária, lembrando que um precedente desse porte pode reverberar em futuras cúpulas. “Se conseguirmos preservar o multilateralismo, já teremos dado um passo crucial”, avaliou.

Com relação ao financiamento climático, a coordenadora foi direta: “É um elemento essencial, mas não podemos travar negociações esperando cheques que podem nunca chegar.” Para ela, países em desenvolvimento precisam estruturar portfólios de projetos na transição energética, na agricultura de baixo carbono e na promoção de equidade social, demonstrando capacidade de implementação independente da liberação imediata de fundos internacionais.

Krug argumenta que uma narrativa excessivamente centrada na lacuna de recursos reforça o ceticismo de que a crise climática seja solucionável. Ao contrário, enfatizar vitórias recentes — como a expansão das energias renováveis e o avanço de metas subnacionais de neutralidade — pode inspirar medidas replicáveis. “Mostrar progresso concreto é remédio contra a paralisação emocional que vemos em parte da sociedade”, disse.

Para sustentar o embasamento científico das delegações brasileiras, o conselho mantém cronograma de relatórios temáticos, cujo primeiro volume, focado em remoção de CO₂, será entregue até março de 2025. Outras publicações abordarão adaptação, métricas de perdas e danos, e monitoramento de metas nacionais de redução de emissões. Esses insumos técnicos alimentarão as posições que o Itamaraty levará às mesas de negociação em Belém.

Krug finalizou seu pronunciamento lembrando que o Brasil, como anfitrião, tem responsabilidade de liderar pelo exemplo. “Se apresentarmos resultados tangíveis na proteção da Amazônia, na expansão da bioeconomia e na redução do desmatamento, ganharemos capital político para cobrar ambição equivalente de outros.” A estratégia, concluiu, é transformar a COP30 em marco de implementação, deslocando o debate de promessas para entregas verificáveis.

Crédito Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

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