Chikungunya registra 121,8 mil casos no Brasil em 2025 e acende alerta sanitário

O Brasil contabiliza 121.803 casos de chikungunya e 113 óbitos até 17 de setembro de 2025, segundo o Painel de Monitoramento das Arboviroses do Ministério da Saúde, mantendo a doença entre as prioridades da vigilância epidemiológica pouco mais de uma década após a confirmação dos primeiros pacientes no país. A reumatologista Viviane Machicado Cavalcante, presidente da Sociedade Baiana de Reumatologia (Sobare), afirma que o avanço persiste porque o controle dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus segue insuficiente, agravado pela carência de saneamento básico e de unidades ambulatoriais especializadas.
Durante conferência realizada no Congresso Nacional de Reumatologia, que ocorre até este sábado (20) no Centro de Convenções de Salvador (BA), a médica enfatizou que o enfrentamento da doença depende de estratégias articuladas entre vigilância ambiental, assistência e educação sanitária. De acordo com ela, os serviços de saúde, sobretudo na rede pública, ainda não estão dimensionados para acompanhar a demanda crônica de pacientes que evoluem com dor articular persistente, principal sequela relatada. Viviane lembra que o Nordeste concentrou os episódios iniciais e continua registrando alta carga, mas destaca que o vírus já se espalhou “por todo o território brasileiro”, com sete grandes ondas epidêmicas identificadas nos últimos dez anos.
A preocupação local reflete o panorama continental descrito pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Em comunicado divulgado há duas semanas, a entidade advertiu para surtos em expansão em 14 países das Américas. Até 9 de agosto, foram notificados 212.029 casos suspeitos e 110 mortes, sendo mais de 97% das ocorrências na América do Sul. Bolívia, Paraguai, Brasil e regiões do Caribe concentram os maiores índices. Segundo a Opas, a circulação simultânea de chikungunya, dengue e zika eleva o risco de desfechos graves, sobretudo em populações vulneráveis.
No Brasil, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul responderam pelo maior número de notificações no último ciclo epidêmico. Para a especialista, a heterogeneidade territorial impõe desafios adicionais, pois cada região exibe condições climáticas, urbanísticas e de infraestrutura distintas que influenciam a proliferação do vetor. Ela ressalta que a manutenção de água parada em recipientes domésticos — vasos de plantas, pneus, garrafas e piscinas sem uso — continua sendo o principal ponto de criação do mosquito, exigindo ações contínuas de eliminação e conscientização.
A busca por soluções tecnológicas ganhou fôlego com o anúncio de uma vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan em colaboração com a farmacêutica Valneva. O imunizante, baseado em vírus vivo atenuado, recebeu autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em abril de 2025 para aplicação em adultos a partir de 18 anos. Contudo, em agosto, a Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos suspendeu a licença após registros de eventos adversos graves, incluindo casos de encefalite idiopática que resultaram em hospitalizações e óbitos. O episódio, segundo Viviane, pode levar a Anvisa a reavaliar os dados de segurança antes da disponibilização em larga escala.
A chikungunya é transmitida pela picada do Aedes aegypti, o mesmo vetor de dengue e zika, e caracteriza-se por febre súbita, dores intensas nas articulações, cefaleia, mialgia, calafrios, dor retro-orbital e exantema. Embora a maioria dos pacientes se recupere em semanas, cerca de 40% podem evoluir para dores articulares crônicas que perduram por meses ou anos, impactando a qualidade de vida e exigindo acompanhamento reumatológico. A inexistência de tratamento antiviral específico reforça a necessidade de prevenção centrada no controle vetorial e no manejo clínico adequado dos sintomas.
Especialistas defendem a ampliação dos ambulatórios de arboviroses para garantir diagnóstico oportuno e seguimento de casos crônicos, além do fortalecimento da rede de vigilância entomológica. A integração de dados meteorológicos, geográficos e epidemiológicos é apontada como estratégia para antecipar surtos, direcionar recursos e otimizar campanhas de eliminação de criadouros. A Sobare também recomenda capacitações periódicas de profissionais de saúde para reconhecer manifestações atípicas e oferecer suporte multiprofissional.
Enquanto a imunização permanece em análise, órgãos de saúde reforçam orientações à população: vistorias semanais em ambientes domésticos, vedação de caixas d’água, descarte adequado de resíduos e uso de repelentes. Para comunidades com menor acesso a saneamento e coleta de lixo, gestores alertam que mutirões de limpeza e educação em saúde são decisivos. Na avaliação de Viviane Machicado Cavalcante, a experiência de uma década revela que “o controle do chikungunya depende de políticas públicas consistentes, investimento contínuo em infraestrutura e engajamento social”, evitando que os dados de 2025 se repitam nos próximos anos.
Crédito Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Fonte das informações: Agência Brasil





