Brasileiros sentem no Prato: 6 em Cada 10 Reduzem compra de alimentos por causa da Inflação.
A escalada dos preços tem mudado hábitos e retirado itens essenciais da mesa das famílias, especialmente entre os mais pobres.

As gôndolas dos supermercados continuam cheias, mas os carrinhos estão cada vez mais vazios. A frase que resume o cenário vivido por milhões de brasileiros em 2025 tem nome: inflação. Mais do que números frios em relatórios econômicos, a alta dos preços tem provocado mudanças reais e dolorosas na rotina das famílias. Um levantamento recente do Instituto Datafolha revelou que 58% dos brasileiros reduziram suas compras de alimentos nos últimos meses devido à escalada inflacionária.
Essa realidade escancara uma crise silenciosa que se instala nas cozinhas do país. Comer menos — ou comer pior — tornou-se uma consequência direta da perda de poder de compra. Neste artigo, exploramos os dados, os impactos sociais e o que especialistas apontam como caminho possível para enfrentar a crescente crise alimentar.
Quando Comer Vira um Desafio Econômico
A inflação voltou ao centro das conversas cotidianas. Em 2025, o aumento dos preços de itens básicos — como arroz, feijão, leite, carne e hortaliças — tem forçado os consumidores a repensarem suas compras. Muitos deixam de levar certos alimentos para casa; outros optam por marcas mais baratas, ainda que de qualidade inferior.
Segundo o Datafolha, mais da metade da população brasileira admite ter cortado ou reduzido o consumo de comida em casa, principalmente alimentos considerados essenciais. A substituição de refeições por opções menos nutritivas também se tornou comum, especialmente entre as famílias de baixa renda.
Os Grupos Mais Afetados pela Crise
A inflação não afeta todos igualmente. A pesquisa mostra que os cortes nas compras de alimentos são mais frequentes entre:
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Mulheres
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Moradores do Nordeste
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Pessoas com renda familiar de até dois salários mínimos
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Pessoas negras e pardas
Em muitos desses lares, o dilema é diário: pagar contas ou garantir refeições completas. A escolha entre gás de cozinha e comida na mesa se tornou parte da rotina de milhões.
Antes eu conseguia fazer as compras do mês com R$ 600. Hoje, mal dá para a metade. Precisei tirar a carne do cardápio, conta Renata Oliveira, mãe solo de três filhos em Recife (PE).
O Que Está Sumindo do Carrinho
Os produtos que mais desapareceram da lista de compras, segundo o levantamento, incluem:
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Carnes bovinas e suínas
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Leite e derivados
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Óleos de cozinha e manteiga
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Frutas, legumes e verduras frescas
A substituição por alimentos ultraprocessados — muitas vezes mais baratos e menos nutritivos — também tem aumentado. Isso pode gerar, segundo especialistas, um efeito colateral grave: a elevação dos casos de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão.
Especialistas Falam em Insegurança Alimentar Silenciosa
De acordo com a nutricionista e pesquisadora Mariana Vasconcelos, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o cenário configura uma emergência social disfarçada de crise econômica.
Não se trata apenas de comer menos, mas de comer pior. A má alimentação está diretamente ligada à exclusão social. Isso afeta o desenvolvimento infantil, a saúde mental e o futuro do país, afirma.
A insegurança alimentar, conceito que vai além da fome e envolve a dificuldade de acesso regular a alimentos saudáveis, já atinge mais de 33 milhões de brasileiros, segundo dados da Rede Penssan.
Perspectivas para os Próximos Meses
A expectativa da população não é otimista. Quase metade dos entrevistados pelo Datafolha (49%) acredita que os preços continuarão subindo. Essa percepção influencia diretamente o comportamento de compra, estimulando um consumo ainda mais contido.
Economistas alertam que, mesmo com possíveis medidas de alívio fiscal e controle monetário, os efeitos da inflação sobre a alimentação devem durar por mais tempo.
Os alimentos têm um peso psicológico e cultural. Quando eles faltam, isso gera um sentimento de desamparo social. A inflação não é apenas um dado técnico, é uma ameaça à dignidade das famílias”, afirma o economista Carlos Mendes, da FGV.
O Impacto no Comércio e na Economia Real
Com o consumidor gastando menos em alimentos, toda a cadeia produtiva é afetada. Desde agricultores até pequenos mercados de bairro, a retração no consumo alimenta um círculo vicioso: queda nas vendas, redução na produção e aumento da instabilidade econômica.
O pequeno comércio sente primeiro: feirantes, padarias e mercearias de bairros populares relatam quedas significativas no volume de compras. A crise de confiança no futuro agrava ainda mais o cenário.
Como as Políticas Públicas Podem Reverter Esse Quadro?
Para especialistas em segurança alimentar, o combate à inflação e à fome precisa ir além de ajustes na taxa de juros. São necessárias:
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Políticas de apoio à agricultura familiar
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Fortalecimento de programas como o Bolsa Família
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Subsídios a itens da cesta básica
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Incentivos à alimentação escolar saudável
Investimentos em educação alimentar e segurança nutricional também são apontados como medidas fundamentais para reverter o empobrecimento da mesa brasileira.
O Direito de Comer com Dignidade
A inflação tem rostos, vozes e histórias. O dado de que 58% dos brasileiros reduziram o consumo de alimentos não é apenas um número — é o reflexo de um país em desequilíbrio social. Comer, que deveria ser um direito básico, virou um privilégio temporário para muitos.
E você? Tem sentido no bolso (ou no prato) os efeitos da alta dos preços? Compartilhe sua experiência nos comentários — sua voz pode ecoar por muitas outras.