Bahia quebra recorde em energia eólica e ganha medalha de ‘Embaixador dos Ventos’

A Bahia entrou, de forma definitiva, para o seleto grupo que dita o ritmo da transição energética no Brasil. Ao confirmar a maior produção de energia eólica do país, o estado viu seu governador, Jerônimo Rodrigues, receber a cobiçada comenda “Embaixador dos Ventos” durante a abertura da 16ª Brazil WindPower, em São Paulo. O reconhecimento coroa um momento histórico: as turbinas baianas já geram volume suficiente para cobrir quase toda a demanda elétrica interna quando somadas a outras fontes renováveis.

Por que a Bahia disparou na frente do restante do país?

Os mais recentes dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) posicionam a Bahia na liderança nacional em geração eólica. Diversos fatores explicam esse salto:

  • Ventos consistentes e de alta velocidade: o interior semiárido apresenta o chamado “fator de capacidade” acima da média mundial, maximizando a produção em boa parte do ano.
  • Incentivos fiscais alinhados a licenças céleres: o governo estadual concentrou esforços na desburocratização de licenças ambientais sem abrir mão de rigor técnico, encurtando prazos de implantação.
  • Sinergia logística com o Porto de Aratu e complexos ferroviários: componentes de aerogeradores chegam e saem com menor custo, favorecendo novos parques.

Esse ambiente favorável fez a Bahia eclipsar estados tradicionais do Nordeste no setor, atraindo fabricantes de pás eólicas, torres e subestações móveis. Analistas de mercado destacam que o estado “criou um círculo virtuoso” em que a cadeia produtiva local alimenta novos investimentos — e vice-versa.

Da feira ao palco global: a estratégia por trás da medalha ‘Embaixador dos Ventos’

Ao subir ao palco da Brazil WindPower, Jerônimo Rodrigues associou a conquista a um projeto de longo prazo que envolve governo, iniciativa privada e universidades.

“A Bahia é líder no Brasil em produção de energia eólica e mais; estamos em quase 100% quando somamos todas as energias renováveis geradas aqui ao consumo elétrico do estado.”

Jerônimo Rodrigues, Governador da Bahia

O destaque não se resume a métricas de produção. A feira serviu de vitrine para o lançamento do relatório “Agenda 2050: Propostas para Descarbonizar e (Neo)industrializar o Brasil”. Produzido pela Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), o documento estabelece metas concretas para cortar emissões em 25 anos. Ao endossar o material, o governo baiano reforça seu papel de porta-voz da transição energética nacional.

O que muda na sua conta de luz e na economia regional?

Embora o consumidor final ainda não perceba queda drástica na tarifa, a expansão eólica cria efeitos positivos de médio prazo. Quando mais energia limpa entra no sistema, o Operador Nacional do Sistema Elétrico consegue despachar menos termelétricas a combustível fóssil, tradicionalmente caras. A tendência é:

  1. Reforço da segurança energética do Nordeste, reduzindo oscilações na bandeira tarifária;
  2. Novo ciclo de empregos: obras civis, manutenção e serviços qualificam mão de obra local;
  3. Atração de indústrias de baixo carbono, que buscam regiões abastecidas por fontes limpas.

Para municípios do semiárido, royalties e impostos já começam a engordar os cofres públicos. Prefeituras destinam parte dos recursos a saneamento e saúde, gerando um efeito social além da energia em si.

Agenda 2050: qual é o plano de descarbonização e neoindustrialização?

O relatório apresentado na feira funciona como um mapa para acelerar a redução de emissões no país. Entre os eixos destacados estão:

  • Expansão de parques eólicos onshore e offshore, com leilões de energia atrelados a metas de conteúdo local;
  • Integração de hidrogênio verde à matriz, aproveitando eletricidade de fontes renováveis para a eletrólise;
  • Modernização da indústria pesada para adotar processos menos intensivos em carbono;
  • Reformas logísticas que diminuam o frete rodoviário, grande emissor de CO₂.

Especialistas presentes ao evento argumentam que o horizonte de 25 anos empurra o Brasil para um patamar competitivo, capaz de exportar produtos alinhados a exigências ambientais cada vez mais rígidas no mercado internacional.

Como investidores reagem ao “boom” dos ventos baianos?

Empresas de geração listadas na bolsa registraram aumento de consultas sobre projetos em território baiano. Fundos de infraestrutura com foco ESG — sigla em inglês para práticas ambientais, sociais e de governança — analisam emissões de debêntures que podem destinar capital a pelo menos uma dezena de novos parques. Na avaliação de analistas de risco, o principal atrativo é a previsibilidade: ventos fortes e estáveis permitem calcular retorno financeiro com maior segurança.

Paralelamente, fabricantes de peças para aerogeradores estudam ampliar plantas já instaladas em Camaçari e cidades vizinhas. A presença dessas indústrias impulsiona cursos técnicos e programas de pesquisa em universidades federais e estaduais, consolidando a Bahia como polo de inovação em energias renováveis.

Quais desafios permanecem no horizonte?

Apesar do cenário otimista, gargalos ainda exigem atenção:

  • Linhas de transmissão: parte da energia gerada em áreas remotas enfrenta restrições de escoamento, o que pode atrasar a entrada em operação plena de alguns parques;
  • Licenciamento ambiental para expansão offshore: ainda incipiente no Brasil, o segmento marítimo necessita de regras claras para promover investimentos de forma sustentável;
  • Formação de mão de obra especializada: a demanda crescente por técnicos e engenheiros supera a oferta em determinadas regiões do estado.

O governo estadual sinaliza que pretende atuar em parceria com o Ministério de Minas e Energia para destravar a infraestrutura de transmissão, ao passo que universidades aceleram cursos voltados ao setor.

O que acontece agora? Próximos passos da revolução dos ventos

Nos próximos meses, a Abeeólica deve abrir nova rodada de diálogos com entes públicos e privados para detalhar cronogramas da Agenda 2050. Espera-se que, até o próximo leilão de energia, parte das recomendações já influencie regras de conteúdo local e critérios de sustentabilidade.

Para a Bahia, a prioridade imediata é capitalizar o momento de visibilidade: atrair fabricantes de componentes, garantir investimentos em pesquisa sobre hidrogênio verde e acelerar acordos de compra de energia de longo prazo (PPAs) com grandes consumidores. Tudo isso alimenta a meta de manter o estado não apenas na liderança eólica, mas como referência global em energia limpa.

A medalha de “Embaixador dos Ventos” marca o reconhecimento de um histórico de políticas públicas, mas também instala um compromisso: provar que é possível, na prática, conciliar geração de riqueza, inclusão social e redução de emissões. Se a Bahia conseguir transformar vento em desenvolvimento sustentável, seu modelo pode se tornar o manual de instruções para outras regiões do país.

Crédito da foto: Foto: Fidelis Melo/GOVBA

Fonte das informações: GOVBA

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