Vinicius de Moraes: MAR exibe 300 peças nos 112 anos

Museu de Arte do Rio (MAR) abriu ao público uma exposição com mais de 300 itens para celebrar os 112 anos de nascimento de Vinicius de Moraes, oferecendo a visitantes um panorama abrangente da trajetória literária e musical do poeta carioca.
Distribuída em salas temáticas, a mostra apresenta manuscritos, fotografias, vídeos, primeiras edições de livros, discos raros e obras visuais que atravessam oito décadas de produção cultural. O núcleo de maior repercussão concentra o Retrato de Vinicius pintado por Cândido Portinari, exibido pela primeira vez na cidade onde o homenageado nasceu em 19 de outubro de 1913. A presença desse quadro, criado em parceria entre dois ícones brasileiros, reforça o papel do MAR como difusor de acervos até então restritos a coleções particulares.
Outro espaço de grande fluxo de público é dedicado ao projeto infantil A Arca de Noé, publicado em 1970. Painéis reproduzem versos que transformaram animais em personagens lúdicos, acompanhados das ilustrações originais de Elifas Andreato. O ambiente estimula a leitura em voz alta e exibe registros em vídeo de apresentações nas décadas de 1970 e 1980, período em que as canções derivadas do livro se popularizaram em escolas de todo o país.
A cronologia da mostra se inicia ainda na infância do poeta, na Gávea, quando, aos nove anos, ele já experimentava os primeiros poemas enquanto São Paulo fervilhava com a Semana de Arte Moderna de 1922. Documentos do Colégio Santo Inácio apontam a formação de um conjunto musical infantil que incluía os irmãos Paulo e Haroldo Tapajós, com quem Vinicius assinou, em 1932, a letra de “Loira ou Morena”, sua estreia fonográfica.
Aos 20 anos, o jovem autor lançou O Caminho para a Distância, livro que chamou a atenção de Manuel Bandeira e Mário de Andrade. Cópias autografadas por esses dois críticos pioneiros integram a sala “Primeiras Vozes”, onde também se encontram correspondências que discutem forma poética, métrica e temas do modernismo tardio.
Formado em Direito, Vinicius ingressou no Itamaraty em 1946 e serviu até 1968, quando foi aposentado compulsoriamente pelo regime militar. Relatórios diplomáticos, passaportes e telegramas codificados ilustram esse período, sinalizando os itinerários de missões culturais em cidades como Paris, Los Angeles e Buenos Aires. A perda do cargo deu início à fase de maior atuação no palco, enfatizada na linha do tempo que cruza gravações de programas de rádio, críticas de cinema e roteiros de teatro.
Nas salas dedicadas às parcerias musicais, arquivos sonoros permitem ao visitante ouvir rascunhos de melodias que, ao lado de Tom Jobim, moldaram a Bossa Nova e fixaram a imagem de um Rio de Janeiro solar dos anos 1950. Mapas interativos mostram datas, locais e set lists de turnês com Toquinho, parceria que gerou mais de cem composições e cerca de mil apresentações. Painéis do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) revelam 709 registros autorais e 527 gravações, quantificando a amplitude do catálogo de Vinicius.
Para contextualizar o impacto da obra, o MAR organizou um corredor crítico-literário com excertos de Ruy Castro, José Castello e Carlos Drummond de Andrade. Em vitrines, edições de Forma e Exegese (1935), Poemas, Sonetos e Baladas (1946) e Livro de Sonetos (1957) encontram-se lado a lado com cartazes originais de Orfeu da Conceição, montagem teatral de 1954 que inspirou o filme Orfeu Negro, vencedor da Palma de Ouro em 1959.
No segmento final, projetores exibem depoimentos gravados na década de 1970 em que Vinicius reflete sobre boemia, espiritualidade e o conceito de “poesia praticada”, expressão que ele usava para aproximar arte e cotidiano. O percurso termina com uma instalação sonora do Soneto de Fidelidade, recitado por diversas vozes e sincronizado a mosaicos de fotografias familiares que antecedem a notícia de sua morte, em 9 de julho de 1980, vítima de edema pulmonar aos 66 anos.
A direção do MAR informa que a exposição permanecerá aberta até o fim da temporada de verão, com agendamento gratuito para escolas públicas e sessões noturnas às sextas-feiras. Oficinas de escrita poética para crianças, mesas-redondas sobre a diplomacia cultural brasileira e concertos de violão com repertório de Vinicius integram a programação paralela. O museu reforça que todo o material segue protocolos de preservação química e digital, garantindo acesso a futuras gerações.
Crédito Foto: Acervo Digital Vinicius de Moraes/Direitos reservados
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