Serra do Ramalho: Alunos comemoram o fim do ano letivo rasgando cadernos e sujando as vias do municipio
Por: Fabio Silva - Jornalista - MTb 0006851/BA - Radialista - D.R.T/BA 3542
O fim do ano letivo é um marco importante para os alunos. É um momento de celebração, mas também de reflexão. Em Serra do Ramalho, essa celebração nesta sexta (01), assumiu uma forma peculiar: os alunos rasgaram seus cadernos e jogaram as folhas na praça da educação e nas ruas da cidade. Mas essa prática é uma expressão cultural ou uma demonstração de falta de educação e respeito com os profissionais de limpeza?
As imagens desses atos de vandalismo rapidamente circularam nas redes sociais, chocando muitos membros da comunidade. Testemunhas relatam ter presenciado estudantes alegres no meio da pista, rasgando e lançando ao ar livros e cadernos. Um motorista, ao se deparar com a cena, expressou sua incredulidade:
“Eu estava dirigindo na avenida norte e vi os estudantes alegres no meio da pista, rasgando e jogando para o alto cadernos. Parei o carro e fiquei tentando entender. Deu um baque. É uma cena que vai contra tudo o que plantamos e justo aqui no nosso quintal. Eu andava cinco quilômetros para comprar um caderno. O caderno, no nosso tempo [de escola pública] era para mostrar pra família com orgulho e guardar.”
Entramos em contato com a direção da escola Castro Alves, professor Luiz Rocha para saber qual a orientação, será passada para os jovens, diante do ocorrido e gentilmente ele respondeu.
A gente lamenta o que aconteceu hoje, tá entendendo? Não tem o apoio da escola, a gente não incentiva esse modalizo. Pelo contrário, os alunos sempre são orientados tanto pela direção da escola como pelos militares à questão dos bons costumes, né? Ao sair da sala, limpar a sala, tirar o lixo que tá na sala para entregar à limpeza da sala já pro turno seguinte, né?
Mas hoje estava se encerrando um ano letivo na parte de aulas. Semana que vem, nós teremos os dias apenas de avaliação. E a maioria das turmas hoje estavam assim, fazendo festinhas de despedida. Quase todas as turmas hoje tinham uma festinha. Com refrigerante, bolo, pipoca, aquela coisa toda. Dentro da escola, logo no final, teve algumas brincadeiras deles jogando bexiga com água no outro, aquelas brincadeiras. Uma turminha, por exemplo, fizeram uma brincadeira lá brincando na água com terra, com lama, já no finalzinho, na hora de ir embora. Mas dentro do espaço da escola não houve nada assim de rasgar caderno nem nada.
Agora, fora do espaço da escola, tudo que foi liberado, a gente já viu que alguns alunos foram fazendo aquilo e ocorreu ali o efeito dominó. Um fez, o outro achou bonito, naquela euforia, comemorando o final do ano letivo. Mas que era uma coisa legal porque trouxe poluição para o meio ambiente, trabalho para o pessoal que trabalha na limpeza e deixou o espaço público ali totalmente imundo.
A coisa que a gente não aprova, a gente… Só que o que pode fazer é reprovar essa situação e estar trabalhando com essas crianças nesse sentido ainda, como nós temos uma semana de aula para estar conversando com eles, porque esse tipo de situação não pode se repetir. Tem outras formas que a gente pode comemorar o final do ano letivo, de uma etapa, mas não danificando assim… ou poluindo o meio ambiente, o espaço público, como sempre ser orientado a não tomar esse tipo de atitude.
A gente sabe que são crianças, são adolescentes, que estão em fase de formação. Um fez, o outro achou bonito naquele momento, e eu faria. E saiu fazendo. Mas a gente não aprova esse tipo de atitudes. O que a gente pode fazer é lamentar. Lamentar o que aconteceu e trabalhar melhor com essas crianças para que em outro ano isso não se repita novamente. É o que eu posso dizer.
A gente só pode dizer que eu lamento o que aconteceu e foge do controle da gente como direção, porque foi coisa que aconteceu fora da escola. Alunos já tinham sido dispensados para ir embora. Aconteceu fora do espaço e a gente não tem como controlar. Não tem… Foge do controle da gente como direção de escola.
A seguinte declaração foi feita pelo professor Januario Gomes, ex-diretor do Castro Alves e presidente do SINSP:
“Fiquei sabendo desse ato assim que cheguei na cidade. Como estou de licença prêmio, o tempo vago que tenho, fico fora da cidade. É algo muito ruim presenciarmos ações desse tipo. Conversei com alguns alunos e alunas sobre o porquê desse ato. Alguns responderam que era pela felicidade de findar um ano letivo, mas que não aprovaram o que os colegas fizeram. Segundo eles, era para ser algo bem diferente, ou seja, uma simples comemoração, mas não da maneira que foi. OS nossos estudantes precisam de mais atenção e cuidado.”
Diante da perplexidade, buscamos a opinião do psicólogo Andrade Rodrigues, que destacou a inadequação e injustificabilidade das atitudes dos alunos. No entanto, ele ressaltou que a adolescência é uma fase repleta de desafios e manifestações de rebeldia são comuns nesse período.
“A adolescência é uma fase de transição muito intensa. Você sai da infância, que é um mundo de criatividade e imaginação, e entra em um mundo cheio de sensações e sentimentos novos. É um turbilhão de hormônios também. Atitudes impensadas e inconsequentes são reflexo disso. A rebeldia é uma das características que o adolescente tem. Eles passam dos limites. É uma agressividade latente e intensa”, comentou Rodrigues.
Contudo, o psicólogo não acredita que a abordagem punitiva seja a solução ideal para lidar com o problema. Ele destaca a importância do diálogo e compreensão, argumentando que a escola precisa ouvir os alunos.
“A escola precisa construir um diálogo para que eles pensem nas escolhas que fazem e em suas atitudes. Uma advertência ou suspensão são paliativos, não resolvem o problema. Os jovens dessa geração têm mil qualidades e mil defeitos. Eles pagam pelos defeitos que têm, mas a escola não se aprofunda nisso. Eles precisam de apoio e conversa para refletir e chegar à conclusão de que a escola é uma coletividade e eles fazem parte dela”, concluiu Rodrigues.
Diante desse episódio, a comunidade escolar enfrenta o desafio de encontrar estratégias eficazes para canalizar a energia e rebeldia dos estudantes de maneira construtiva, promovendo uma reflexão coletiva sobre a importância do respeito e do comprometimento na construção de um ambiente educacional saudável.